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“É preciso quebrar o paradigma de que sucesso e maternidade não andam juntos”, afirma People Analyst

Muita coisa surge quando as palavras “maternidade” e “carreira” se cruzam. Conciliar maternidade e trabalho é um desafio. Aos olhos de muitos um desafio fácil de ser vencido, basta apenas muita organização e disciplina. Contudo, para mais de 28,1 milhões de mães que estão no mercado de trabalho, segundo o último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o caminho a ser percorrido é muito mais tortuoso do que se imagina. 

Conciliar a vida profissional com a tarefa materna ainda é visto como um desafio, principalmente por preconceito e falta de compreensão nos ambientes de trabalho. Segundo levantamento realizado pela MindMiners, empresa de tecnologia especializada em pesquisa digital, com 1.000 mulheres, pelo menos 30% delas declararam ter sofrido algum preconceito por causa da gravidez no ambiente de trabalho. Outras 28% tiveram problemas psicológicos por conta de pressão no trabalho e estabilidade.

Apesar dos desafios constantes e barreiras estruturais, as mulheres e mães lutam para assumir o protagonismo no mercado de trabalho todos os dias. Apesar dessa jornada ser longa, há meios de torná-la possível e cabe às organizações a tarefa de mudar este cenário. O Dia das Mães, celebrado neste domingo (09), é uma oportunidade de empresas reverem posicionamentos e estratégias e serem os próprios agentes de mudança na trajetória dessas mães profissionais. Nesse sentido, o departamento de Recursos Humanos (RH) dessas organizações tem um papel importante no processo.

People Analyst na Satellitus Tecnologia, Aline Campos tem 28 anos e é mãe da Maria Luiza de 1 ano e 9 meses. Em entrevista especial ao Blog da Satellitus, Aline comentou sobre as dificuldades vivenciadas por mulheres que são mães e que desejam se realizarem profissionalmente e destacou iniciativas que devem ser desenvolvidas por empresas, a fim de que o mercado seja um ambiente mais acolhedor. 

Aline Campos (People Analyst) e sua filha Maria Luiza de 1 ano e 9 meses (Foto: Arquivo/Satellitus)

SATELLITUS TECNOLOGIA – Uma pesquisa realizada pela MindMiners sobre mercado de trabalho destacou que quase metade das entrevistadas já sentiram que foram rejeitadas para uma vaga simplesmente porque eram mães ou pretendiam ser. O que você acha que leva empresas a simplesmente não trabalharem a inserção desse público no mercado de trabalho?

ALINE CAMPOS: Infelizmente, as empresas ainda enxergam a maternidade como algo que “atrapalha” a produtividade e os resultados. O que é uma visão equivocada. Afinal, o que determina resultados positivos são colaboradores motivados, engajados e que se identificam com a cultura da empresa e não o fato de terem ou não filhos. 

SATELLITUS TECNOLOGIA – A cultura organizacional de uma empresa tem influência direta no apoio ou não às colaboradoras?

A.C: Com certeza. Uma empresa que não enxerga pessoas como prioridade e não praticam a empatia pelos colaboradores certamente não acolherá mulheres e mães. Em contrapartida, quando a cultura organizacional tem como valores a empatia, respeito e, além disso, coloca pessoas antes de resultados, o apoio a mulheres e mães se torna algo natural.

SATELLITUS TECNOLOGIA – Qual é o papel que deve ser desempenhado pelos profissionais de RH dentro de empresas no momento da contratação e no acompanhamento de colaboradoras que são mães?

A.C: A maternidade não é algo que deva ser questionado em um processo seletivo. Perguntas do tipo “com quem seu filho vai ficar para você trabalhar” devem ser banidas. Devemos focar em competências e mulheres desenvolvem inúmeras delas quando se tornam mães. O RH, como o próprio nome diz, é um departamento de Recursos Humanos, portanto, é nosso papel tratar candidatos e colaboradores como tal. Para isso, devemos ter a sensibilidade e empatia de entender que vez ou outra, uma colaboradora precisará acompanhar o filho ao médico ou ir buscar mais cedo na escola. Ter essa empatia nos proporciona colaboradores engajados e motivados.

SATELLITUS TECNOLOGIA – De que forma as organizações podem contribuir para que as mulheres se sintam seguras ao decidirem ser mães?

A.C: Tratando este assunto como ele deve ser tratado, ou seja, com naturalidade. Afinal é o processo natural da vida. Enquanto as empresas continuarem vendo isso como impeditivo para que mulheres desempenhem suas funções, nunca teremos equidade no ambiente organizacional. Sempre estaremos em desvantagens em comparação aos homens.

SATELLITUS TECNOLOGIA – Você é mãe e em algum momento da vida teve de procurar emprego. Como você sentiu o mercado? Receptivo ou nada acolhedor? 

A.C: Com toda a certeza, nada acolhedor. Em uma das entrevistas que realizei, a selecionadora me disse que ficava preocupada pelo fato de contratar uma mulher que tinha filha e a empresa “ficar na mão” caso a minha filha ficasse doente. Infelizmente, o mercado ainda prioriza pessoas sem filhos, pois os enxergam como impeditivo para a realização de um bom trabalho.

SATELLITUS TECNOLOGIA – Você já tinha uma filha quando passou pelo processo de seleção na Satellitus Tecnologia. Como foi esse primeiro contato e recepção por parte dos que a contrataram?

A.C: Fui recepcionada como uma profissional como outra qualquer, independente de ser ou não mãe. Fui entrevistada de acordo com as minhas skills e as competências que o cargo exigia. Em nenhum momento a maternidade foi questionada ou vista como um impedimento para minha contratação, pelo contrário, ela foi acolhida e compreendida.

SATELLITUS TECNOLOGIA – De que forma a gestão e a cultura organizacional da Satellitus contribui para um acolhimento destas profissionais que estão em busca de conciliar trabalho e maternidade? 

A.C: A Satellitus utiliza a Gestão 3.0, onde nosso foco são pessoas. Um dos nossos pilares é a empatia. Partindo desse princípio entendemos e acolhemos essas mães.

SATELLITUS TECNOLOGIA – Você acredita que o mundo corporativo ainda tem que passar por muitas mudanças para dar apoio, suporte e ferramentas, ou seja, condições de verdade para as mães que buscam se realizar profissionalmente?

A.C: O mundo corporativo precisa mudar seu olhar e a sua cultura perante os métodos de trabalho e a forma como enxergam as mães. Proporcionando a equidade de gêneros, ambiente acolhedor, inclusivo e de respeito às mães e pais. Desconstruir a visão de que jornadas extensas de trabalho são sinônimos de produtividade.

SATELLITUS TECNOLOGIA – De que forma a sociedade pode contribuir para que a simples ideia de ter filhos e uma carreira bem sucedida por parte das mulheres deixe de ser um tabu dentro do mundo corporativo?

A.C: Desconstruindo o modelo machista que vem sendo praticado, onde os afazeres domésticos e a responsabilidade pelos filhos fica centralizada exclusivamente na mulher e para os homens cabe apenas a parte financeira. É preciso quebrar o paradigma de que sucesso profissional e maternidade não podem andar juntos.